quarta-feira, 15 de abril de 2015

Avaliar não é o mesmo que testar: um protesto pessoal!


Gibson da Costa

Sempre fui contrário aos testes escolares tradicionais como forma de “avaliação” da aprendizagem dos alunos. Para mim, enxergar aquele tipo de teste como forma única e/ou necessária de avaliar a aprendizagem é um equívoco irreconciliável com minha visão de educação. Educar não é despejar informações numa caixa e esperar que o estudante as retire durante um momento de testagem. Essa compreensão antiquada e autoritária de educação e de avaliação – como bem demonstram pesquisas sobre currículo e avaliação, especialmente aquelas associadas a Jay McTighe e Grant Wiggins, por exemplo – limita a real avaliação da aprendizagem e contribui muito pouco para o desenvolvimento da autonomia pessoal/intelectual do estudante.

O grande obstáculo, contudo, é que a maioria daqueles que são responsáveis pela administração do trabalho do professor discordam de minha oposição aos testes tradicionais. Na verdade, a maioria dos próprios estudantes e de seus pais acreditam que fazer testes, e “sair-se bem neles”, é a mais adequada forma de medição de aprendizagem e de sucesso educacional. Então, é comum que alguns sintam-se desconfortáveis com atividades “alternativas” aos testes tradicionais como forma de avaliação. E mesmo quando o “teste” é remodelado – já que, muitas vezes, é obrigatório – para dar uma voz maior ao pensamento do próprio estudante, ou para incitar sua criatividade, já recebi ao menos os olhares reprovadores.

Eu, como alguém com sérias limitações de concentração e foco, sei o quão inútil e prejudicial pode ser ter minha aprendizagem avaliada por meu desempenho em testes e provas – que ocorrem em momentos e lugares, para mim, inoportunos. Assim, trazendo essa autoconsciência, não poderia exigir daqueles a quem ensino algo que eu mesmo teria problemas para enfrentar com “sucesso”. Minha própria experiência ao longo da vida me condiciona a abraçar outras compreensões do que seja e de como deva ser processada a avaliação de aprendizagem.

Recentemente, lidando com a testagem obrigatória dum tema específico em História (a organização urbana das colônias da América espanhola) no correspondente ao Ensino Médio, resolvi realizar uma atividade mais prática – mas que também envolvesse textos escritos. A atividade se estendeu por dois diferentes dias. A turma deveria ler, em casa, uma fonte histórica (as “Ordenações Reais para a Construção de Novas Cidades”, de 1573), projetar uma nova cidade seguindo as regras estabelecidas no documento; e, individualmente, escrever sobre os valores e ideias que estavam por trás daquela visão urbanística (previamente, havíamos discutido o tema em sala e lido textos a respeito):

1) A turma se organizou em grupos de 4;
2) dei a cada grupo um mapa duma área desabitada, e uma cópia das “Ordenações Reais para a Construção de Novas Cidades” (1573), nº 110 – 135;
3) os grupos deveriam seguir as ordenações e, primeiramente, decidir sobre o tamanho e a localização da praça;
4) decidir onde seriam as ruas;
5) determinar as localizações dos prédios principais;
6) determinar outras características;
7) na aula seguinte, deu-se a parte escrita – o “teste” propriamente dito –, no qual cada estudante, individualmente, escreveu sobre as razões, os valores e as ideias por trás daquela visão/organização urbanística.

Os estudantes fizeram referências às suas leituras anteriores e às discussões que desenvolvemos em sala; basearam sua produção na leitura de fontes históricas; trabalharam sua imaginação criativa e diferentes tipos de inteligência para planejar uma cidade e desenhar um mapa; trabalharam sob a pressão do tempo; e fizeram tudo isso por meio da cooperação em suas equipes.

Como isso poderia ser inferior a um teste escrito com questões de múltipla escolha ou qualquer outro tipo de perguntas?... O que eles e elas fizeram, em minha visão, avaliou muito bem sua aprendizagem!...

Mas não foi exatamente isso que alguns pais e alguns de meus colegas pensaram. Para eles, talvez, a aprendizagem daqueles jovens só teria sido realmente avaliada se tivessem respondido a questões objetivas capazes apenas de testar sua memória para supostos fatos históricos. Tive de defender minha posição diante dum comitê burocrático!... Uma redução escandalosamente distante do que tantas pesquisas sobre currículo, avaliação, e aprendizagem apontam sobre o que poderia, deveria ocorrer e realmente ocorre no processo de ensino-aprendizagem.

Depois dessa última experiência com os debates sobre avaliação no ambiente real de trabalho, sinto-me ainda mais comprometido com minha antiga posição anti-testagem!